segunda-feira, 4 de maio de 2009

Desenhar o Brad Pitt na parte branca

Uma vez li numa revista, acho que foi na Elle ou qualquer coisa desse género, numa dessas crónicas de senhoras já entradotas mas que não perdem o estilo, que crescer era perder a esperança que um dia o Brad Pitt nos ligasse a convidar para sair. E aquilo soou-me profundamente sincero e revelador da condição humana. Deprimente, portanto.
Na verdade a senhora pôs em palavras o que me anda a infernizar de há uns tempos para cá. Antigamente, a minha vida era uma insignificância, um ponto numa folha em branco que eu fazia questão de pintar e preencher à vontade do freguês. Quando viajava horas colada ao vidro do banco de trás do carro do meu pai, ou quando atravessava o largo para a escola secundária, às vezes deitada na cama, imaginava tudo o que me poderia acontecer, literalmente tudo, coisas boas, coisas más (Mãe, isto explica aquelas caras estranhas que eu às vezes fazia). Era feliz com esse vazio que moldava tipo plasticina. À medida que o tempo passa vou tendo menos vazio para brincar. A minha vida torna-se um ponto cada vez maior (no fundo um embroglio de riscos) e assim não posso desenhar na parte branca. Ainda tenho a parte branca grande, mas ela está a diminuir. E isso deixa-me frustrada. E esta merda é que é crescer.

2 comentários:

Filipe Ruivo Guerreiro disse...

escreves muitíssimo bem, tens ideias geniais :)

João Miguel Ferreira disse...

ves? nao sou só eu que acho genial! o filipe concorda comigo :D