segunda-feira, 16 de junho de 2008

Lembro-me de ficar fascinada com a 'vertigem' kunderiana, a ideia de que aquilo que tomamos por medo, é simplesmente o lidar com a inevitável atracção pelo abismo, o apelo da profundidade e o desejo de cair. Na altura, quando ainda era mais teenager do que sou hoje, pensei 'eina pá, isto explica muita coisa'. A metáfora cabe em muitos sítios. Desde a atracção pela vida decadente do sex, drugs, and rock'n'roll (artista que não morre de overdose, cirrose, ou suicídio não pode estar suficientemente embrenhado na arte) até ao simples desejo de comer gelados até vomitar, mesmo sabendo que as consequências podem ser as mais nefastas. Há lá coisa mais bonita do que estar deprimido, a chorar compulsivamente contra uma janela, num dia de chuva miudinha? Esteticamente falando, encontramos qualquer coisa de belo no 'estar na fossa' que nos atrai tipo íman, e que não nos deixa necessariamente tristes, é a tristeza que funciona tipo masturbação mental. São os objectos e as situações que me atraem e repelem, sem eu saber qual é o apelo mais sincero. É como o sabor da vodka, é tipo passar o Santo António no São José, é tipo a consciência de ter algo de extremamente importante para fazer, agora, mas, simplesmente, não ligar.

Um comentário:

Ana Margarida Pinheiro disse...

Tavas inspirada Gui =D
Viva os Santos*