quinta-feira, 27 de março de 2008

Fragmentação à la gui (é fixe)

Como qualquer egocêntrico que se preze, remeto-me sempre para as situações que a ficção me oferece. Falo nessa comunhão que teima em querer aparecer inevitavelmente quando me é apresentada a vida de alguém, real ou não (a sua existência é de facto irrelevante para este sentimento) e que culmina sempre comigo a ocupar o lugar do protagonista. É infantil, algo embaraçoso, se calhar chega a roçar o ridículo, mas é um vício. A verdade é que já dei por mim encostada ao vidro do carro, a ouvir Bow Wow Wow, convencidíssima que era a Maria Antonieta a regressar a Versalhes depois de uma bruta bebedeira. Mas desengane-se aquele que pensa que isto é alguma espécie de automatismo involuntário. É, na verdade, um processo complexo, e envolve muita consciência da minha parte. Ao fim ao cabo estou a ocupar o lugar de outra pessoa, cujas acções nem sempre correspondem aos meus padrões de valores (éticos e estéticos e outros que devem existir mas não possuo).
A última vez que me deparei com alguma dificuldade foi quando vi “Into the Wild”, a versão cinematográfica da história de Christopher McCandless aka Alexander Supertramp. Queimar dinheiro, largar antigos laços afectivos e priveligiar a Natureza às relações humanas não combinam comigo, fazê-lo de forma voluntária iria ser o mais difícil de explicar à minha pobre mente. Tentei agarrar-me então à beleza das imagens, e à riqueza das conexões que o protagonista que estabelecia com quem encontrava, pois sendo eu particularmente sensível a experiências visuais e ao desenvolvimento de relações entre pessoas que partem de realidades distantes esses seriam os elementos catalizadores de tamanha jornada. Mas por muitas voltas intelectuais que desse, eu não conseguia conceber porque raio é que o rapaz queria ficar sozinho, sozinho no meio do mato! Será da minha pouca experiência de vida? Não terei atingido maturidade suficiente para largar o velho estigma de que o melhor da vida é o amor e afins? Já prestes a ter que me desligar deste valor-base para compreender o personagem, sou salva quando aquela figura cadavérica e desgrenhada escreve “Hapiness only real when shared”.

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